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quarta-feira, 30 de julho de 2008

Nissan Tiida

O título desta matéria não é inédito. Usamos um igual em 1993, no teste de lançamento do Fiat Tipo 1.6 i.e. O carro não despertava paixões, mas tinha muito espaço interno, os equipamentos mais importantes e, com o dólar valendo menos que o real, preço apetitoso. Era médio em vários sentidos, mas vendeu tanto que um dia ultrapassou o Gol. A viagem no tempo é necessária para explicar o Nissan Tiida, que será importado do México (com isenção de impostos e dólar barato) a partir deste ano. Afinal, ele não se parece com nenhum modelo à venda.
Nosso encontro ocorreu em Las Vegas, Estados Unidos. Lá, foi batizado como Versa, mas no texto chamaremos de Tiida, o nome a ser adotado aqui, para você ir se acostumando - toda ajuda é bemvinda, não é uma tarefa muito fácil. Ele chega ao mercado americano na categoria "supermini", um balaio de gatos que reúne Honda Fit e Toyota Yaris. O que esses dois entregam de charme, ele compensa com espaço interno. Dá para dirigir o Tiida sem tirar a cartola da cabeça: o teto é mais alto que o do Peugeot 307 (no banco da frente, mais até que na Meriva). O banco de trás pode ser deslizado 24 centímetros para a frente, elevando a capacidade do porta-malas de 289 para 463 litros. Nem precisava ter regulagem de distância: na posição mais avançada, seria difícil esbarrar os joelhos. Quatro adultos de 1,90 metro viajam com espaço de táxi inglês, mas não cinco: o espaço para os ombros, no banco de trás, é 9 centímetros menor que no 307. Isso porque, apesar de ser um carro médio, o Tiida usa a plataforma (2,5 centímetros alongada) do novo Clio europeu, um carro pequeno.
O formato "meio hatch, meio minivan" é moderno, com janelinha entre o pára-brisa e a porta, à moda do Honda Civic. Mas o Tiida não tem a ousadia do Peugeot 307 ou Citroën C4 - aliás, nenhum médio nacional é tão comportado. O carro foi lançado no Japão em 2004. Cronologicamente, faz parte da revolução estilística imposta pelo brasileiro Carlos Ghosn (veio depois de Murano e 350Z), mas duvidamos que o presidente da Nissan tenha uma foto do hatchback na parede de sua casa, em Paris. Mas olhe as fotos à esquerda e acredite: da família Tiida, este é o mais harmônico. De arrojada, só a chave, pouco maior que um canivete. Aliás, não é ela que impressiona, mas sua ausência.
Só obedece ao donoA chave fica no bolso. Para abrir a porta, puxe a maçaneta; para ligar o carro, gire uma borboleta no lugar de sempre, na coluna de direção. A noção de distância do sistema é refinada: o motor não liga se a chave estiver fora da cabine, e a porta não abre se o motorista estiver 10 metros adiante. Se o Tiida for roubado num sinal de trânsito, continuará funcionando (é melhor para a vítima que o bandido saia de perto), mas não ligará novamente. E, se a pilha da traquitana acabar, basta pegar a chave tradicional, que fica embutida. Tudo muito seguro, simples e intuitivo; melhor que o cartão de seu primo de corporação Renault Mégane, que não traz grande vantagem e nos obriga a reaprender o que sempre soubemos fazer.
Nosso Tiida era a versão de luxo, SL, com o câmbio manual (existem automático de quatro marchas e CVT). Trazia a chave mágica, teto solar e rodas de liga leve, mas não transpirava sofisticação. O arcondicionado é convencional, sem visores digitais ou função dual-temp (mesmo as saídas de ventilação sob os bancos da frente, comuns em nossos carros médios, são ausentes aqui). Para abrir o tanque de combustível, nada de trava elétrica - puxe a alavanquinha, como nos Civic e Toyota Corolla. Não há computador de bordo, mas o carro avisa se os pneus estão murchos e quanto falta para a próxima revisão. O painel é de plástico duro e tem desenho careta, mas as peças têm encaixe cuidadoso e os botões são claros e grandes. O desenho e a qualidade do estofamento não impressionam, mas entre os bancos fica um encosto de braço na altura ideal e, dentro dele, dois porta-copos.
A direção elétrica é cômoda nas manobras de estacionamento, mas talvez seja leve demais para quem gosta de emoções fortes. De qualquer jeito, essa não parece ser a vocação desse Tiida. Mesmo com câmbio manual de seis marchas, o motor 1.8, de 16 válvulas com comando variável e 128 cv, não disse a que veio. Esperávamos mais dele, afinal é a mesma receita (não o mesmo motor) que faz o Corolla andar rápido. Mas, não podemos esquecer, rodamos num carro temperado para o paladar americano. É natural que o molejo da suspensão e as longas relações de marcha nos pareçam tão estranhas quanto bacon no café da manhã. Mas é coisa que se ajeita e é isso que a Nissan no Brasil deve fazer, nos próximos meses. Eles estão animados (ou no mínimo agitados) com a meta, anunciada em dezembro, de aumentar a participação no mercado de 0,5% para 2,5% até 2009. Quando souberam que andei com o Tiida, pediram minha opinião. "Se custar tanto quanto um Peugeot 307, acho difícil, o carro de vocês não parece requintado. Se custar barato, vale a pena, ele é espaçoso e honestíssimo. E aí, para que lado vai?" O funcionário da empresa não respondeu. Mas sorriu.
VERSÕES



O Tiida Latio (acima) era cotado para vir ao Brasil, mas desistiram - de sedã, por enquanto, basta o Sentra. Tem o comprimento do hatch e portamalas de 467 litros. A Wingroad é mistura de perua e minivan, feita na Nova Zelândia.
Ficha técnica



Motor: dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16V, gasolina, injeção seqüencial multiponto Cilindrada: 1 797 cm3 Diâmetro x curso: 84 x 81,1 mm Taxa de compressão: 9,9:1 Potência: 128 cv a 5 200 rpm Potência específica: 9,7 cv/l Torque: 17,6 mkgf a 4 800 rpm Câmbio: manual de 6 marchas, tração dianteira Carroceria: hatchback, 4 portas, 5 lugares Dimensões: comprimento, 451 cm; largura, 171 cm; altura, 141 cm; entreeixos, 254 cm Peso: 1 247 kg Peso/potência: 70,9 kg/cv Peso/torque: 70,9 kg/mkgf Volumes: porta-malas, 289 a 463 litros; combustível, 50 litros Suspensão: Dianteira: McPherson com barra estabilizadora. Traseira: eixo de torção com barra estabilizadora Freios: a disco ventilado na dianteira, a tambor na traseira, com ABS, BAS e EBD opcionais Direção: pinhão e cremalheira, com assistência elétrica Pneus: 185/65, aro 15 Principais equipamentos de série: disqueteira para 6 CDs, MP3, 8 airbags, ar-condicionado Preço: 14 550 dólares (Nos EUA, custa o mesmo que um Corolla; no México, 3% mais que Palio Adventure e Corsa Sedan completo.)
VeredictoEm vez de investir em perfumaria, entrega espaço e praticidade. A preço de carro pequeno de luxo, será ótimo.